Sobre o “funesto hábito” da masturbação infantil: uma análise discursiva da vigilância, perseguição e dos mecanismos de controle das práticas onanistas em dois manuais médicos publicados no Brasil, Século XIX

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14295/rbhcs.v14i28.13965

Palavras-chave:

História da Infância, Sexualidade, Onanismo, Doença

Resumo

O artigo tem por objetivo apresentar uma análise dos discursos sobre os perigos do onanismo infantil que foram registrados em dois manuais médicos do século XIX. Tratar-se-iam das obras francesas Lettres sur les dangers de l'onanisme (1813) e Onanisme, seul et à deux (1883). Tais impressos foram traduzidos para o português e direcionados à mocidade brasileira, a partir da constatação de que o vício diário da masturbação seria causa de enfermidades, cujos efeitos poderiam, até mesmo, causar a morte. A análise empreendida revela “os signaes pelos quaes se podem conhecer os rapazes que se dão a esta infame manobra”, os significados morais atribuídos para este “vício” e todo o aparato disciplinador, que minuciosamente instruía à ativa vigilância, ao uso de interrogatórios e de castigos, além de intervenções mais severas que incluíam restrições alimentares, regulações físicas, contenções mecânicas, ingerência de remédios e cirurgias médicas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Fernando Ripe, Universidade Federal de Pelotas

Doutor em Educação pela Universidade Federal de Pelotas-UFPel (2019). Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS (2011). Especialista em Educação Matemática pela Universidade Luterana do Brasil-ULBRA (2006). Graduado em Licenciatura em Matemática pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS (2004) e História pelo Centro Universitário de Maringá - Unicesumar (2020). Professor na Faculdade de Educação (FaE) e no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática (PPGEMAT) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Faz parte do Centro de Estudos e Investigações em História da Educação (Ceihe/UFPel) e do Cultura e Educação nos Impérios Ibéricos (CEIbero/UFMG). Temáticas de interesse: Filosofia e História da Educação (e) Matemática, História da Infância, século XVIII, teorizações foucaultianas, práticas educativas escolares e não-escolares. É coordenador do GT de História da Educação (ANPUH-RS) e secretário da Associação Sul-rio-grandense de pesquisadores em história da educação (ASPHE). E-mail: fernandoripe@yahoo.com.br

Referências

ARIÈS, Philippe. Reflexões sobre a história da homossexualidade. In: ARIÈS, Philippe; BÉJIN, André (Orgs.). Sexualidades Ocidentais: contribuições para a história e para a sociologia da sexualidade. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 77-92.

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981.

BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico, architectonico [...], v. 2. Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1712-1728.

CORAZZA, Sandra Mara. História da infância sem fim. Ijuí: Editora Unijuí, 2004.

CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (Orgs.). História das Emoções. Vol. 2, Das Luzes até o final do século XIX. Petrópolis: Vozes, 2020.

CORBIN, Alain. Formas do desejo e da fruição, decepções e mal-estar. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (Orgs.). História das Emoções. Vol. 2, Das Luzes até o final do século XIX. Petrópolis: Vozes, 2020, p. 276-295.

DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente 1300-1800: uma cidade sitiada. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

DENIPOTI, Cláudio. Páginas de Prazer: a sexualidade através da leitura no início do século. Dissertação de Mestrado. Curitiba: UFPR, 1994.

DONZELOT, Jacques. A Polícia das Famílias. Rio de Janeiro: Graal, 1980.

DOUSSIN-DUBREUIL, J. L. Cartas acerca dos perigos do onanismo (masturbação) e conselhos relativos ao tratamento das molestias que delle resultão. Trad. Dr. João Candido de Deos e Silva. Rio de Janeiro: em casa de Eduardo e Henrique Laemmert, 1842.

FOUCAULT, Michel. Segurança, território, população: curso dado no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

FOUCAULT, Michel. Os anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

FREYRE, Gilberto. Ordem e Progresso. São Paulo: Global, 2004.

GARNIER, D. P. Onanismo: só e a dois, sob todas as suas formas e suas consequências. Rio de Janeiro; Paris: Garnier Livreiro-Editor, 1901.

GIDDENS, Anthony. La transformación de la intimidad: sexualidade, amor y erotismo em las sociedades modernas. Madri: Catedra Teorema, 2004.

HENRIQUES, Francisco da Fonseca. Medicina lusitana, socorro delphico, aos clamores da natureza humana, para total prostigação de seus males. Porto: na Officina Episcopal de Manoel Pedroso Coimbra, 1750.

MATTHEWS-GRIECO, Sara F. Corpo e sexualidade na Europa do Antigo Regime. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges. História do Corpo. Vol. 1 Da Renascença às Luzes. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 217-302.

RIPE, Fernando. A constituição do sujeito infantil moderno na cultura impressa portuguesa do século XVIII. Tese de doutorado em Educação, PPGE, Universidade Federal de Pelotas, 2019.

RIPE, Fernando. “Do amor da castidade, & horror a toda torpeza, com que se deve crear os mininos”: análise do imperativo da inocência infantil em uma obra do Padre Alexandre de Gusmão. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, v. 8, 2016, p. 8-31.

SOUSA, Manoel Dias de. Nova escola de meninos. Na qual se propõem hum methodo facil para ensinar a lêr, escrever, e contar, com huma breve direção para a educação dos meninos. Ordenada para descanço dos Mestres, e utilidade dos Discipulos. Coimbra: Na Real Officina da Universidade, 1784.

Downloads

Publicado

2022-09-01

Como Citar

Ripe, F. (2022). Sobre o “funesto hábito” da masturbação infantil: uma análise discursiva da vigilância, perseguição e dos mecanismos de controle das práticas onanistas em dois manuais médicos publicados no Brasil, Século XIX. Revista Brasileira De História & Ciências Sociais, 14(28), 352–383. https://doi.org/10.14295/rbhcs.v14i28.13965