O trem da vida e o metrô para a morte: arte e sonho interpelam sujeitos políticos em tempos pandêmicos<br>Le train de la vie et le métro pour la mort: l’art et le rêve interpellent les sujets politiques à l’époque de la pandémie

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Jaquelina Maria Imbrizi
Marcela Gomes
Gabriel Binkowski

Resumo

As narrativas oníricas e produções cinematográficas podem ser consideradas obras de arte que formulam questões que interpelam o apreciador da cultura e podem transportá-lo da posição de mero espectador para a de testemunha de seu tempo. Tendo essa afirmação como pressuposto, o objetivo do artigo é estabelecer aproximações entre a narrativa onírica intitulada “Um metrô para a morte” e o filme franco-romeno Trem da Vida, lançado em 1998. Para o desenvolvimento de nossa argumentação, apresentaremos a ação “Rodas de Conversa sobre Sonhos” vinculada a projeto de extensão universitária que inventou um espaço clínico político para que imaginários circulassem entre os participantes de um grupo. O ponto nodal da nossa argumentação é o fato corriqueiro do sujeito estabelecer associações entre uma narrativa onírica e uma produção cinematográfica. Nesse encadeamento de ideias foi possível traçar uma crítica à sociedade contemporânea que em seu modo de organização ainda repete ações que aprisionam subjetividades ao perpetuar o racismo, a desigualdade social e perpetrar a política da morte.


 


Résumé


Les récits oniriques et les œuvres cinématographiques peuvent être considérées comme des œuvres d’art suscitant des questions qui interpellent l’amateur de culture et qui ont le potentiel de le faire passer de la position de simple spectateur à celle de témoin de son époque. En prenant cette affirmation en tant que point de départ, l’objectif de l’article est d’établir des rapprochements entre le récit onirique intitulé « Un métro pour la mort » et le film franco-roumain Train de vie, sorti en 1998. Afin de développer notre argumentation, nous nous pencherons sur l’action « Cercle de Discussion sur les Rêves » réalisée dans le cadre d’un projet d’extension universitaire qui a conduit à l’invention d’un espace clinique et politique où les imaginaires pourraient circuler entre les participants du groupe. Le point central de notre argumentation repose sur le fait habituel par lequel le sujet établit des associations entre un récit onirique et une œuvre cinématographique. Cet enchainement d’idées a rendu possible une critique de la société contemporaine qui de par son mode d’organisation réplique encore des actions qui emprisonnent les subjectivités en perpétuant le racisme, les inégalités sociales et la politique de la mort.


 

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Como Citar
Maria Imbrizi, J. ., Gomes, M., & Binkowski, G. . (2021). O trem da vida e o metrô para a morte: arte e sonho interpelam sujeitos políticos em tempos pandêmicos<br>Le train de la vie et le métro pour la mort: l’art et le rêve interpellent les sujets politiques à l’époque de la pandémie. Deslocamentos/Déplacements:/Revista/Franco-Brasileira/Interdisciplinar/De/psicanálise/E/Ciências/Sociais, 2, 26–73. Recuperado de https://seer.furg.br/des/article/view/12797
Seção
Artigos/Article
Biografia do Autor

Jaquelina Maria Imbrizi, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/Santos)

Possui graduação em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1984 -1988), mestrado e Doutorado em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1997) e (2001) e pós-doutorado pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia: Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicanálise e Política (2013 - 2015). Professora Associada III da Universidade Federal de São Paulo - Campus Baixada Santista onde desenvolve atividades na graduação e nos Programas de Pós-graduação Stricto Sensu Ensino em Ciências da Saúde (Modalidade Profissional) e Interdisciplinar em Ciências da Saúde (Mestrado e doutorado acadêmicos). É uma das coordenadoras do Laboratório Inter Campi de Psicanálise, Política, Arte e Sociedade da Unifesp - Baixada Santista e Guarulhos - cadastrado no diretório de Pesquisa do CNPq. É membra do Laboratório de Psicanálise, Sociedade e Política (USP) e do Coletivo Internacional Amarrações - Psicanálise e Politicas com Juventudes. Atualmente coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas Sonhos, Juventudes e Psicanálise, o Projeto de Extensão: Arte e Sonho: abordagem psicanalítica nos modos de cuidar das Juventudes e é vice coordenadora da Ação de Extensão "Clínicas Sociais, Psicanálise e Filosofia". Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicanálise e Psicologia Social, atuando principalmente nos seguintes temas: arte, sonhos, juventudes, cultura e sociedade; mal-estar e violência; narrativa de história de vida e grupo como dispositivo.

Marcela Gomes, Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Santa Catarina, Brasil.

Psicóloga, psicanalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina. Cursou mestrado e doutorado em psicologia social no Programa de Pós-Graduação dessa mesma universidade, onde atualmente é docente. É membro da área "Psicologia Social e Cultura" do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, na linha de pesquisa "Psicanálise, Política e Cultura". Coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Migrações, Psicologia e Cultura" (NEMPsiC). É líder do grupo de pesquisa (CNPQ) "Psicologia, cultura e saúde mental", onde atua nas seguintes linhas de pesquisa: "Psicanálise, políticas públicas e direitos humanos" e "Migrações, processos psicológicos e saúde mental". Membro da EDIQ (Équipe de recherche en partenariat sur la diversité culturelle l?immigration dans la région de Québec), vinculada à Universidade de Laval (Quebec/Canadá). Desenvolve projetos de pesquisa e extensão nos seguintes temas: migrações, violências e vulnerabilidades psicossociais; SUAS; pessoas em situação de rua.

Gabriel Binkowski, Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, Brasil.

Psicanalista e Professor Colaborador no Departamento de Psicologia Clínica da USP; mestre em Clínica Transcultural e doutor em Psicologia pela Université Sorbonne Paris Nord; pesquisador pós-doutorando no PPG de Psicologia Clínica da USP; membro do Laboratório de Psicanálise, Sociedade e Política (PSOPOL) e da Unité Transversale de Recherche Psychogenèse et Psychopathologie (UTRPP). Faz parte do comitê editorial da Revue L’autre: Cliniques, Cultures et Sociétés. É supervisor clínico no Grupo Veredas: Psicanálise e Migração e um dos coordenadores do Relapso – Grupo Interuniversitário de Pesquisa em Religião, Laço Social e Psicanálise.

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